Saúde e Beleza Visualizações: 721462 🕗 Em 17/04/2023 às 01hora(s) e 04min, Por: Luiz Prado e Carolina Borin Garcia, em Saúde e Beleza, Jornal da USP, Brasil
Rico em componentes com potencial antioxidante, fruto da Amazônia ainda é pouco consumido em outras áreas do País
A farinha de pupunha pode também ajudar a reduzir o consumo do trigo, que lá possui preço bem mais alto do que aqui. Seria uma opção”, comenta Luiz Colnago. O produto seria também, complementa o pesquisador, uma alternativa para as pessoas que não podem consumir glúten.
Segundo Fernanda, antes da pesquisa outros trabalhos acadêmicos já haviam analisado a aplicação dessa farinha em alimentos. Contudo, apesar desses estudos já apontarem para possíveis utilizações na culinária, a professora argumenta que uma caracterização mais completa da farinha de pupunha ainda não havia sido feita.
Em seu trabalho, Yves Santos analisou a qualidade do amido, os compostos bioativos (substâncias presentes em pequenas quantidades nos alimentos que, apesar de não serem essenciais ao organismo, como é o caso dos nutrientes, podem apresentar potencial para reduzir o risco de doenças) e verificou a influência do local de colheita nos frutos. Os resultados mostraram que, além da função antioxidante, a farinha de pupunha tem alta concentração de carboidratos, além de conter lipídios, proteínas e fibras e boas concentrações de potássio, ferro e manganês.
Desafios
Santos também avaliou os impactos da farinha na digestão, aplicando-a em uma amostra de iogurte. Foi aí que o pesquisador encontrou resultados que o surpreenderam. Foram identificados efeitos antinutricionais na farinha de pupunha. Os experimentos revelaram que o produto reduziu a absorção de proteínas no processo de digestão in vitro, e uma das possíveis causas pode ter sido graças a alta concentração de componentes fenólicos, um grupo de compostos bioativos que aparece em vegetais como hortaliças, frutas, cereais, café e soja e que apresenta características antioxidantes, com possibilidade de atuação na prevenção de doenças.
Essa análise foi feita em parceria com os professores Rosemary Carvalho e Heidge Fukumasu e a pesquisadora Arina Rochetti, também da FZEA, William Facchinatto, doutor pelo Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, e Martine Morzel e Steven Le-Feunteun, do Institut National de Recherche pour l’Agriculture, l’Alimentation et l’Environnement (Rennes-França).
Analisando o iogurte com e sem a farinha, os pesquisadores perceberam que esta atrapalhava a absorção de proteínas. “Sabíamos que a farinha tinha uma grande concentração de compostos fenólicos, mas não imaginávamos que isso iria atrapalhar de maneira tão importante a bioacessibilidade de absorção das proteínas”, conta Fernanda.
Segundo Colnago, apesar de contrariar as expectivas, esses resultados não são inusitados. É sabido, explica o pesquisador, que compostos fenólicos podem ter a capacidade de reduzir a absorção de proteínas e até mesmo de outros nutrientes. Tais efeitos antinutricionais não são incomuns em diversos alimentos conhecidos. O estudo permitiu verificar que o estado natural (ou in natura) de um alimento, o modo como ele é encontrado diretamente na natureza, nem sempre é a melhor maneira de consumi-lo, afirma Fernanda.